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Mostrando postagens de abril, 2019

031 – 26 de abril – “Aventuras sexuais da Batgirl”, de Karima Solokov

A Karima Solokov não são desconhecidas as encrencas com a Lei. [Afirmou rindo à coluna cultural do Ekspress de Lvov que a polícia do Uzbequistão já a convidou nove vezes para um papo, e que espera levar um bolo de chocolate para celebrar o décimo]. Tudo por causa de livros, ou melhor, de ideias. A professora de Tapeçaria no Instituto de Estudos Orientais de Tashkent já teve problemas pelo seu livro anterior Casanova o Casto , no qual disseca [baseada em exegese de corte estruturalista] as Memórias do famoso sedutor e conclui que de sedutor não teria nada -   e que, se hoje vivesse, seria adolescente nerd e incel em porão com sardas e vendo sites da pesada. [A obra, de maneira pouco mais que estúpida, foi censurada como pornográfica]. Em Batgirlning shahvoniy sarguzashtlari [Aventuras sexuais da Batgirl] Karima destrincha a personalidade tipo iceberg [com um grande setor oculto] da filha do Comissário Gordon – sua dúbia relação com o pai, a mais dúbia ainda com o Homem-mo

030 – 24 de abril – “Os games da vida”, de Lorenzo Perez-Martinez

24 anos, um tanto alto, magrela, misto de sardas e espinhas, e com um rosto que parece desconhecer a existência da luz solar, [além da namorada nerd de cabelos verdes] Lorenzo Perez-Martinez tem muito do arquetípico gamer . No entanto o mais jovem dos professores-auxiliares da Universidade Tecnológica de Buenos Aires fez obra não isenta de aprofundamento. Que poderia ser sido escrita em Bangkok, Amsterdam, Verkhoyansk ou Irauçuba – tanto que a cultura digital impregnou o mundo. O jovem professor evidentemente não adere ao coro os-games-são-a-desgraça-do-mundo . Também [e talvez surpreendentemente] não lhes faz apologia. Em vez disso coloca-os como uma extensão [mais tecnológica, é fato] do que sempre aconteceu. Para o autor, todos os humanos vivem um game . Para o marido traído, nenhuma mulher presta [todas as cerca de 3,7 bilhões]. E isso é real – para ele. Ele se move em um mundo de safadas sem caráter, a defender-se delas – tanto quanto o gamer foge dos raios alfa-laser d

029 – 23 de abril – “De Canalha a Herói”, de Giovanni Bianchi

  O menos significativo dos filmes de Roberto Rosselini inspirou esse ensaio, igualmente pouco divulgado [mas não destituído de interesse], que hoje se publica em 2ª edição, comemorativa (Milano, 2019), e que saiu originalmente no mesmo ano do filme [1959] O comunista duro-na-queda e crítico de cinema Bianchi tomou o filme do lendário cineasta [que teve o banal título de Il generale Della Rovere ] para se aprofundar na questão do bem e do mal. O filme se passa na Gênova ocupada pelos nazistas. O anti-herói da trama é um canalha, mesquinho e vil – mancomunado com um nazista corrupto, prendem pessoas para extorquir suas famílias. Um dia passa dos limites e é preso. Por coincidência, um chefe da resistência chamado Della Rovere é morto. Ninguém conhece seu rosto. E o oficial nazista faz com que o canalha se passe por Dela Rovere, para denunciar pessoas da resistência. E ocorre a transformação – o farsante [fingindo ser líder dos resistentes], passa a fingir cada vez men

028 – 22 de abril – “A História dos Inexistentes Espiões”, de Ludwig Philby

Ludwig Philby não é pseudônimo: seus pais [fanáticos por histórias de mistério] deram a ele o nome [sempre misterioso] de Ludwig, e o de velho espião inglês chamado Philby. Isso poderia parecer o mais aventuroso na vida do escrevente do Escritório de certificação de carne na República da Moldávia, que, para completar a normalidade, casou e teve uma filhinha berrante a quem esquenta mamadeiras de madrugada. E no entanto seu segundo livro Istoria Spionilor Inexistenți [A História dos Inexistentes Espiões] tem muito a ver com o autor. Sua tese é de que os espiões não são loirões altos, cercados de modelos da Victoria´s Secret e Lamborghinis envenenadas. Um grande espião é um tipo verdadeiramente esquecível – não se destaca por nada. São esses os que nunca são pegos. Ludwig dedicou suas noites [antes do nascimento da menina, pelo menos] ao passatempo de pesquisar a vida deles, e a abertura dos arquivos da velha KGB na Moldávia o ajudou. Não se   trata de leitura emocionante, po

027 – 21 de abril – “Eisoptrofobia”, de Vicente Bioy-Gonzales

Começa com o autor com dezessete anos a adentrar uma das principais lojas de roupas de Santiago do Chile, no primeiro dia do seu emprego de vendedor. Não era tanto a necessidade [embora fosse de classe média] que o levava a trabalhar lá, mas uma desconfiança. Horas depois ao final do expediente a gerente o congratulava – vendera dois vestidos e um par de sapatos, nada mau para um iniciante [talvez por seu charme – Vicente não era feio]. Congratulou-o e foi embora – por um instante o rapaz ficou sozinho enquanto as luzes se apagavam. Viu um javali. Que o olhava sem ódio – mas como javali. Que se transformou em tigre. Que se retorceu como redemoinho – e se transformou no avô do rapaz, falecido havia um par de anos. Vicente sentiu uma mão a lhe apertar o pescoço, mas não o bastante para sufocá-lo, enquanto nuvens violetas lhe toldavam a visão. No dia seguinte a mesma gerente o encontrou caído ao chão em frente aos espelhos do provador. A desconfiança se confirmou – Vicen

026 – 19 de abril – “História Geral dos Desertos”, de vários autores

As colinas de areia belas de um lugar chamado Khongoryn Els , na Mongólia [junto com as mui congruentes tenda de peles de iaque e os camelos bactrianos] forneceu o pano de fundo ideal para esse lançamento [frequentado por quase uma centena de climatologistas e historiadores da relação entre sociedade e natureza, além dos inevitáveis caçadores de exotismo]. E exotismo não falta a Tsöliin yerönkhii tüükh [História Geral dos Desertos]. Apesar da língua e do local de lançamento, não se trata de livro mongólico. De fato juntou grupo de autores nativos dos desertos do mundo – sendo o primeiro deles o deserto de Gobi, em volta do local de lançamento. O segundo deverá ser o posto de gado de Onderombapa, no deserto Kalahari na África, para versão da obra em Swahili. Apesar de todo o hype ecológico [não de todo indevido], o principal tema da História Geral ... não são as traquinagens ambientais humanas. De fato [argumenta o livro] mais que uma realidade pluviométrica [delimitada por

025 – 18 de abril – “A Noite Lisboeta de Ulrich Moosbrugger ”, de Musil Remarque

O prefácio deste livro [talvez tão fake quanto o próprio] afirma que, no lançamento da primeira edição do mesmo [exatamente a 18 de abril de 1974], estavam presentes o presidente do conselho de ministros Marcello Caetano e o General António de Spínola no salão do Café Ocara , em Lisboa. De fato, a presença de líderes do fascismo decadente não seria despropositada no livro relançado hoje ao pé da estátua de Dom José I na mesma Lisboa – já que uma pesquisa sobre onde seria o tal do Café resultou infrutífera [se é o café também não é fake]. Não são incomuns livros de gente fingindo ser escritor famoso – mas fingir ser dois ao mesmo tempo constitui novidade. Esse curioso livro consiste nas aventuras de um cara que não sabe o que fazer da própria vida durante uma noite em Lisboa em 1942. 1942 – auge do fascismo, e o herói [antifascista] foge da Gestapo enquanto remói equações diferenciais e se envolve com mulheres – todas erradas, desde aristocratas cabelinho-nas-ventas até maníac

024 – 17 de abril – “NECESSARY DEVIL – estudos sobre o Pica-Pau”, de Carlos Sanchez Ramirez

Trata-se de ensaios sobre um sujeito aético, lascivo, inimigo do trabalho, às vezes criminoso, que não esconde seus vícios, e que, pior de tudo, nunca se emenda. Em outras palavras, trata-se de ensaios sobre o Pica-Pau ( Woody Woodpecker ). A Yasak Kitaplar (editora) de Tijuana, México dá continuidade à sua política de chocar os leitores ao lançar o terceiro volume (em inglês) de sua coleção Forbidden Books , e não se pode dizer que errou. Carlos Sanchez Ramirez [talvez um pseudônimo - de fato, o noticiário cultural da Azteca Uno (TV) informou que o autor não veio ao lançamento] provavelmente escolheu a editora de Tijuana não por acaso – trata-se da cidade não-estadunidense mais próxima de Hollywood, terra natal do personagem – e fora do alcance da censura dos EUA. A análise centra-se em episódios reveladores. Em episódio de 1945 o pássaro termina se dando bem – bem demais para os pudicos estadunidenses – cercado de garotas de corpetes apertados e bustos que saltava

023 – 16 de abril – “Três – alguns - corpos”, de Jennifer H. Smith

Não faltou audácia à advogada novaiorquina em publicar uma parte de sua vida nos anos 70 em um lugar esquecido-por-Deus chamado Wooster, Ohio. Havia muito de comum em Jennifer Smith, a começar do nome e a continuar das sardas no rosto. Na High School passava despercebida. Assim como seus dois amigos, que ela chama de Robert e Daniel. Robert dominava vários instrumentos e ganhara alguns concursos de guitarra – embora detestasse competições. Daniel apaixonara-se por cálculo diferencial – nerd avant-la-lettre . Os dois amigos adotaram, por assim dizer, a menina sem graça. Ela os divertia, como sócia menor dessa trindade. Saíam da classe juntos, dividiam a mesma mesa na cafeteria e eram sempre os dois que a deixavam em casa. A sócia menor cresceu. Com a ajuda deles, as notas dela subiram para a estratosfera e tornou-se o orgulho da família. E eles dois passaram a achá-la bonita. O livro cresce em fogo lento até um momento em que saem do cinema. Ela agarra as mãos dos d

022 – 10 de abril – “A Vida Sexual dos Emojis”, de Hristina Ivankov

Talvez a Hemus-Dimitrov-Verlag ( Publishing House) de Sofia tenha cometido um acerto ao inaugurar sua coleção Novos Autores dessa forma. Hristina Ivankov só era conhecida como crooner [de, curiosamente, bossa nova] e por meia dúzia de poemas espalhados em jornais da cena punk da capital da Bulgária. Com essa obra de estreia a cantoria-poetisa surpreende. Seksualniyat zhivot na emotikonite [A Vida Sexual dos Emojis] é mais diverso do que poderia parecer, até pelo próprio tema. Principia em tom ensaístico, no qual a autora insiste em que se evite quaisquer analogias com humanos – Emojis não são gente e sua vida sexual é muito outra. Isso se torna patente quando, em intervalo com tons de short story , a autora descreve uma relação sexual entre eles – cheia de anagramas, mistura de desenhos, sinais sonoros em smartphones , tudo sob a eterna ameaça de um tilt – e só se sabe que terminou quando a autora escreve a palavra Fim . E é isso mesmo, segundo a aurora, é confuso mesmo para

021 – 9 de abril – “A Tese da Inexistência de Barbosa de Freitas”, de José F. Nobre

Essa obra [que semelha ser o esboço de uma Dissertação de Mestrado, jamais defendida] não chegou a ser publicada – constou de um blog cultural nos últimos dias de março, sendo depois distribuída [em edição pdf] por alguém com um e-mail [possivelmente o autor] a pessoas que considerou que pudessem se interessar. Não se trata de assunto que vá abalar o mundo – talvez o faça no entanto ao Departamento de Trânsito de Fortaleza, que talvez tenha de mudar o nome de uma das principais ruas do bairro afluente da cidade. Antônio Barbosa de Freitas nasceu em 1860, filho de uma infidelidade. Rejeitado por isso, sentiu cedo a hipocrisia das gentes. Vindo para a cidade grande, gastou sua vida em lupanares e mesas de bar, entre mulheres de aluguel, malandros e tipos sem noção, afundando-se na bebida e escrevendo versos sobre barricas de bacalhau. Não é preciso ser especialista em literatura romântica para prever que contrairia tuberculose. Ele diligentemente o fez, e morreu entre hemop

020 – 8 de abril – “Memórias de um Iphone”, de Virtanen Yourcenar

Esse livro insensato sobre um assunto infantil polui infelizmente a robustez da cena cultural finlandesa! – tal crítica plena de altissonância figurou [curiosamente] quase com as mesmas palavras nos cadernos de literatura das edições impressas do [quase impronunciável] Ilta-Sanomat e do [aparentemente mais próximo porque em inglês] Helsinki Times . Virtanen Yourcenar tem certo savoir-faire . Pouco mais de trinta anos, arquetípico bom menino [daqueles que decoram poemas e não têm namorada] previsivelmente escolheu ser professor de pré ensino fundamental [um dos primeiros da Finlândia] e publicou [até agora] apenas obras sobre cachorrinhos perdidos e balões de ar. Com IPhonen muistoja [Memórias de um Iphone] retoma um recurso caro a sua ídola Marguerite Yourcenar [daí o pseudônimo]: tomar um objeto cotidiano e seguir a trajetória das pessoas que o tocam. O livro inicia-se no dia 29 de junho de 2007, quando o primeiro Iphone saiu da loja, e se encerra quando o mesmo en

019 – 7 de abril – “As Seis Vidas de Marka”, da própria

A 2ª edição desse livro – lançada hoje na Avenida da Periferia na pequena cidadezinha de Vanves nas cercanias de Paris promete [talvez infelizmente] ser tão mal sucedida quanto a primeira. [Pode parecer pleonasmo e é, mas Vanves é pequenina mesmo]. O fracasso se deveu menos aos defeitos do livro [evidentemente existentes] que às expectativas [exageradas] em torno dele. A protagonista [do qual o segundo nome jamais é apresentado] calca-se obviamente na atriz sueca Marika Green. Nome talvez sem significado para a maioria exceto para os amantes do cinema Nouvelle Vague [que lembrarão de seu pequeno porém significativo papel em um dos primeiros filmes de um novato chamado Bresson], e os fãs do pornô-soft [que lembrarão de seu grande papel na primeira parte da saga Emmanuelle – com a devida licença aos puristas por utilizar a palavra saga ]. Como a senhora Marika no segundo desses filmes desfilava sua ausência de tabus – pois não fazia absolutamente nenhuma distinção entre hom

018 - 6 de abril – “É Tarde da Noite...”, da Coletânea de autores Mariahilferstrasse

A editora MariaHilferStrasse Verlag de Viena decidiu [sabe-se lá por que razão] publicar a esta coletânea na Vaci street , de Budapeste. É tarde da noite... , ou, no original em alemão, Es ist spät in der Nacht, bitterkalt... se trata de contos de autores de vários países [todos mantidos anônimos], cada um começado pela mesma frase: “É tarde da noite, morrendo-de-frio, e o próximo ônibus só vem daqui a uma hora”. Surpreende pelo primeiro conto ser em alemão [o livro, já se sabe, é húngaro], e mais, ainda, pelo segundo se passar no Brasil. Nos dois primeiros de estabelece um padrão: o conto é na língua do contista [com uma tradução em alemão], e o lugar quase nunca é charmoso. O conto alemão se passa em Braunschweig, sonolenta cidade sem vida noturna pois todo mundo se exaure de trabalhar na fábrica de carros lá perto. O segundo em Teresina, numa das quinas da Praça Desembargador Edgar Moreira. O terceiro [escrito em Lingala] ocorre na madrugada no porto de Matadi, que sequer é

017 – 5 de abril – “eu sou a loura – uma biografia da Baronesa Eloísa D´Herbil da Silva”, da própria

Por muito tempo e desde sua primeira edição em 1944 foi considerada esta uma obra de ficção. A história de: uma aristocrática jovem nascida em 1852 em Havana, Cuba; filha de Barão e Duquesa; sucesso como menina-prodígio ao piano em cortes europeias; com nome claramente abrasileirado (chamava-se Eloísa D´Herbil de Silva y Barboza); e que, de quebra, compunha tangos, parecia demasiado romanesca para ser real. E no entanto o era. Desde um pioneiro artigo na revista Club de Tango em 1992 acredita-se que Yo soy la rubia , reeditada hoje pela editora Emefe de Buenos Aires, com prefácio dos editores do Página 12 , revela as memórias de uma pessoa bem existente. A música marcou, é claro, a vida da Baronesa. A música e as dificuldades – não pouco aumentadas pelo fato de gostar de música de bêbados, mandriões, vagabundos de porto, mulheres de aluguel, tatuagens e vinho de terceira – em outras palavras, por gostar de tango. Eu sou a loura é o título de seu maior sucesso. Sequer é

016 – 4 de abril – “O mau estilo faz o grande homem”, de Freitas Ramos

O título do pequeno livro lançado hoje pela Nova Dazibao faz eco a frase perdida de autor bem mais famoso. O primeiro filósofo brasileiro Raimundo de Farias Brito registrou-a na sua Base Física do Espírito , página 170, em sua forma completa: O mau estilo fez o grande homem – trata-se de um que venceu por seus defeitos . Não se sabe se Freitas Ramos copiou essa frase de Farias ou o inverso é que é verdadeiro. De fato sequer se sabe muito sobre Freitas Ramos - com exceção de doze sonetos publicados em jornais cariocas da época e de um abstruso Tratado de Pneumatologia Matemática – no qual intentou provar a existência do Espírito Santo através de cálculos. O   Mau Estilo... tenta mostrar que não as virtudes, mas as falhas que levam ao sucesso. Exemplos não faltam: do baixinho Napoleão, que pisava em minhocas e mandava mil homens para a morte com os mesmos problemas de consciência, a Giacomo Casanova, que quanto mais mentia desbragadamente mais conseguia garotas, passando por

015 – 3 de abril – “A extraordinária Lua-de-Mel de Batman e Mulher-Gato”, de Robert John May e Theresa Corbin (PhD)

The extraordinary   Honeymoon… trata de não-acontecimento. De fato, nem mesmo os mais teimosos fãs do seriado dos anos 60 e de seus múltiplos remakes afirmam que ocorreu tal coisa, seja em Acapulco, Bali, ou em alguma pousada barata na Prainha. Tão surpreendente quanto o assunto são os autores: a veterana psicóloga Gestalt-comportamental Theresa (da Universidade do Oregon) e o típico nerd de óculos-sardas-e-nem-pensar-em namorada Robert John se uniram para este livro inevitavelmente surgido em Seattle, de Kurt Cobain, dos desajustados e doidões em geral. Mais que não-acontecimento, trata-se de um quase-acontecimento. Fãs morderam os dedos na cena em que a Mulher-Gato pediu um beijo ao Homem-morcego, e este tropeçou nas palavras, arriscou um pequeno discurso sobre a naturalidade dos beijos – e Robin apareceu no último instante. Ou quando (em armadilha que ela preparara) a Gata-mulher deitou-se em sofá, o sólido frontal a encher o mundo e os olhos do pobre Batman, até que nada, co

014 – 2 de abril – “A Biblioteca Fantástica de Evaristo da Veiga”, talvez do próprio

De Evaristo Ferreira da Veiga e Barros sabe-se que colecionava inimigos. Contrário a Dom Pedro I, a José Bonifácio, à Imperatriz e [diziam os críticos] ao Planeta e ao Universo, o misto de jornalista e livreiro disparava petardos editoriais através do seu Aurora Fluminense . Elegeu-se com votação surpreendente [para gáudio dos antidemocratas, que afirmam que o povão sempre gostou de escândalo]. Dizia possuir uma Biblioteca Secreta para uso de seus inimigos. Esse fato [mencionado por Otávio Tarquínio de Sousa na página 51 da sua clássica biografia do autor] teve um passo a mais para sua prova através da publicação desta obra [em edição fac-símile]. A Biblioteca Fantástica... consiste em catálogo de livros, anotado e comentado por alguém [talvez o próprio Evaristo]. Constam títulos como Teoria das Mesuras ou da arte de sujeitar-se às circunstâncias [tema que pode, talvez, ser considerado universal]; Tratado do Perjúrio ; Arte de Atrasar a Civilizaçã o ; Governo das Mulheres [este

013 – 1 de abril – “A Impossível vida de Hashimin al-Shabbadi”, de Anônimo...

...não se trata de vetusta obra coalhada de tapetes voadores, esculturais gênias em lâmpadas e de xeques cortadores de cabeças [afinal, como diz o igualmente não-assinado prefácio, para isso existem os seriados estadunidenses e as Mil e Uma Noites ]. E de fato, pouco tem a ver com o Oriente. O quase folheto, lançado hoje no misto de livraria e pub Bad Breath em Belfast [de péssima fama por ser um manjadíssimo ponto de simpatizantes do IRA e também de Party girls ] conta a história de uma não-pessoa – não exatamente um animal, embora estes estejam invadindo as telas do mundo, devido a uma compreensível desilusão com os humanos devido aos problemas climáticos. O herói [que nunca se sabe se é herói ou heroína] de The Impossible Life... [ An saol dodhéanta em irlandês] escolhe esse improvável nome árabe exatamente por sua falta de sentido. Não se fala de seu pai nem de sua mãe. Escolas, colegas e bullying então, nem pensar. Apenas se sabe que recusou ser humano. Sem se tratar de n