027 – 21 de abril – “Eisoptrofobia”, de Vicente Bioy-Gonzales
Começa com o autor com dezessete anos a adentrar uma das principais lojas
de roupas de Santiago do Chile, no primeiro dia do seu emprego de vendedor. Não
era tanto a necessidade [embora fosse de classe média] que o levava a trabalhar
lá, mas uma desconfiança.
Horas depois ao final do expediente a gerente o congratulava – vendera
dois vestidos e um par de sapatos, nada mau para um iniciante [talvez por seu charme
– Vicente não era feio]. Congratulou-o e foi embora – por um instante o rapaz ficou
sozinho enquanto as luzes se apagavam.
Viu um javali. Que o olhava sem ódio – mas como javali. Que se transformou
em tigre. Que se retorceu como redemoinho – e se transformou no avô do rapaz, falecido
havia um par de anos. Vicente sentiu uma mão a lhe apertar o pescoço, mas não o
bastante para sufocá-lo, enquanto nuvens violetas lhe toldavam a visão.
No dia seguinte a mesma gerente o encontrou caído ao chão em frente aos
espelhos do provador.
A desconfiança se confirmou – Vicente tinha um inimigo onipresente na vida
moderna. Ele tinha Eisoptrofobia – pavor a espelhos.
O autor afirma que inicialmente pensava que tal livro interessaria a poucos
– mas foi descobrindo irmãos e irmãs pelo mundo, unidos pelo medo do que uma superfície
refletida pudesse fazer com eles. Escreveu para dizer que não estão sós.
Obviamente deixou o emprego na loja. Hoje é oficial aduaneiro na fronteira
com a Argentina, em um posto esquecido por Deus chamado Pehuenche – no qual nem
mesmo os banheiros têm espelhos.
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