020 – 8 de abril – “Memórias de um Iphone”, de Virtanen Yourcenar
Esse livro insensato sobre um
assunto infantil polui infelizmente a robustez da cena cultural finlandesa!
– tal crítica plena de altissonância figurou [curiosamente] quase com as mesmas
palavras nos cadernos de literatura das edições impressas do [quase impronunciável] Ilta-Sanomat
e do [aparentemente mais próximo porque em inglês] Helsinki Times.
Virtanen Yourcenar tem certo savoir-faire.
Pouco mais de trinta anos, arquetípico bom menino [daqueles que decoram poemas
e não têm namorada] previsivelmente escolheu ser professor de pré ensino
fundamental [um dos primeiros da Finlândia] e publicou [até agora] apenas obras
sobre cachorrinhos perdidos e balões de ar.
Com IPhonen muistoja [Memórias de um Iphone] retoma
um recurso caro a sua ídola Marguerite Yourcenar [daí o pseudônimo]: tomar um
objeto cotidiano e seguir a trajetória das pessoas que o tocam.
O livro inicia-se no dia 29 de junho de 2007, quando o primeiro Iphone
saiu da loja, e se encerra quando o mesmo entra na esteira de desmonte a 8 de
novembro de 2016 [coincidência ou não, o dia em que Trump foi eleito – e em que
o professor veio para a aula com os olhos vermelhos]. Entre essas datas,
dramas, infidelidades, mesquinhezas, generosidades que passam despercebidas, whatsapps de amor que nunca foram enviados,
algumas doses de tédio e também de alegria.
A mensagem do professor Virtanen talvez tenha escapado aos dois
vetustos jornais – focados na engenhoca, esqueceram da vida – o tema desse
pequeno livro.
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