036 – 22 de maio – “Uma vindicação do Apocalypse Now”, de Antônio Arnaldo da Silva
Tendo em vista a paixão que os brasileiros em geral têm pelo que vem de
fora, não chega a surpreender esse improvável comentário ao clássico “Apocalypse
Now” de Francis Ford Coppola, escrito pelo brasileiríssimo Antônio Arnaldo da Silva,
saído em edição do autor na não menos brasileira Boca do Acre, no Amazonas.
O fato de ser cidade cercada pela selva torna a obra menos implausível.
O filme do hollywoodiano se baseia em novela (“Heart of Darkness”) escrita pelo polonês renegado Joseph Conrad, que
versava exatamente sobre um rio cercado por uma selva, o Congo. A interpretação
de Arnaldo da Silva leva em conta esse dado histórico e vai mais além. O enredo
básico [que se desenvolve tanto na novela quanto no filme] para o cinéfilo brasileiro
diz respeito tanto a uma realidade externa [a Guerra do Vietnã no caso do filme,
o Genocídio no Congo no caso da novela] quanto a uma realidade interna do protagonista-autor
e talvez até do leitor. O rio misterioso que avança em floresta na qual não se sabe
onde se escondem os inimigos, quando vão atacar ou mesmo se existem pode ser metaforizado
como a própria jornada existencial. E o homem enlouquecido a se esconder no meio
da selva [o agente Kurtz no livro, que no filme se torna coronel] se trata do próprio
Eu Verdadeiro, a tentar equilibrar sua sanidade em meio ao horror – que é a última
palavra que Kurtz pronuncia. Talvez excessivamente psicológica, a interpretação
de Da Silva possivelmente tem algum mérito.
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