004 – 22 de março – “Querido, você esqueceu o filme-a-cores!”, de David Braunschweig



Du hast den Farbfilm vergessen! – que em tradução fiel porém livre pode ser lido como “Querido, você esqueceu o filme-a-cores” inspirou uma canção de Nina Hagen, escrita ainda nos tempos da Alemanha Oriental. O livro (um pequeno volume relançado hoje no começo da tarde em uma festinha no subsolo da Livraria Kulturhaus perto da estação de metrô da rua Frederico em Berlim) se trata de uma coletânea de contos.

Pouco líveis hoje em dia, é verdade. Compreende-se: lançados em primeira edição lá em 1972 nos tempos do comunismo, tiveram que driblar a censura da Stasi – a polícia política – com alusões abstrusas.

O conto-título narra a história de uma moça que foi a uma praia distante com o namorado tirar fotos: a começar com a garota de vestido e chapéu; depois de vestido, sem chapéu; depois de chapéu, sem vestido; e finalmente até o chapéu tomou doril.

Ao chegar em casa, a decepção – as fotos eram todas em preto e branco. O rapaz esquecera o filme a cores. Segue-se uma elucubração filosófica de que, agora ninguém mais verá aquelas cores, o vermelho, o azul, o rosa – e se ninguém as verá, elas existem?

Você Esqueceu o Filme a Cores interessará pouco a quem não gosta de falar de filosofias existenciais ou de garotas sem roupa. Claro que interpretações mais suculentas sempre valem – poder-se-ia pensar na garota (nua) como a democracia – bela porém frágil. E o filme preto e branco seria a repressão política, a tirar a graça de tudo. Felizmente os censores do Burô de Informação o perceberam.

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