033 – 08 de maio – “Pássaros em uma macieira”, de H. B.
Não foi [de maneira alguma] por coincidência que a editora punk Unmöglicher Verlag de Rostock resolveu lançar
no dia de hoje este pequeno volume de poemas. De fato trata-se de segunda edição
de obra quase lendária – lendária porque rara. O primeiro lançamento se deu na mesma
cidade no mesmo dia 8 de maio, só que em 1945 – o dia em que terminou a Segunda
Guerra. Naqueles tempos não era recomendável para ninguém nem lançar poemas nem
se deixar fotografar nem mesmo respirar naquela cidade de Rostock e vizinhanças
– bombas e fuzis são desagradáveis e têm a péssima mania de quebrar ossos. Desnecessário
dizer que H. B. se trata de pseudônimo, possivelmente a nunca ser revelado.
Para quem imagina um pungente testemunho dos horrores da guerra o livro
é decepção. Birds in na apple tree [o
título é assim mesmo, em inglês, apesar do título ser em língua germânica] coerentemente
com o nome fala de solidão, espanto, luares de prata, pássaros no fundo do mar e
de pássaros em macieiras. Curioso - ao se pensar que seu autor ou autora [impossível
saber a essa altura] provavelmente entrava na fila da água às quatro da manhã e
tinha de partir móveis para o fazer fogo.
O dilema pode [talvez] ser quebrado no seu último verso normais sejamos / previsíveis e mesmos / para
que algo apareça. O que pode ser interpretado como o poder da monotonia em romper
o negativo, mesmo a tragédia. Como não se sabe quem escreveu isso, não há como perguntar
se essa interpretação é correta.
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