19 de março - Tragédia reciclada



William Shakespeare obviamente não escreveu o drama Hadithi maarufu ya kupanda na dhiki ya Mfalme Lumumba, publicado hoje em Bulungu, Congo, em 91 páginas pela casa Upepo Haupo. Primeiro por que não consta que o bardo inglês soubesse Swalihi – a língua desse drama - embora sempre haja a possibilidade de que tenha sido tradução. E segundo, pela razão talvez não pouco convincente de que o personagem que inspirou o enredo nasceu exatos 309 anos depois da partida do inglês para o Empíreo – o que, excetuando-se a hipótese de que o espiritismo seja correto, nos faz concluir que é um pseudônimo que consta na sua capa.

A peça [em mui shakespearianos cinco atos] e que pode ser traduzida para o português, de maneira mais fiel ao espírito que a letra, como A célebre narrativa da ascensão e tragédia do Imperador Patrice Lumumba dramatiza a vida de um jovem que saiu do nada político e em três anos voltou ao nada – esse metafísico. Ao seu desconhecido autor ou autora pode-se perdoar a escolha por esse pseudônimo. Não o foi [cremos] por subserviência, mas pelo reconhecimento de que somente um autor como o inglês faria justiça ao primeiro-ministro [não Imperador]. De fato em sua vida se colocam os ingredientes – paixão e glória, destino e falsos amigos, amigos verdadeiros e forças sem controle.  Observo apenas que o bardo elisabetano talvez não concordasse com a fala final do protagonista diante de seus fuziladores:

- Ao final, não sei se estava certo. Mas se não estive, não teve importância.

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