008 – 26 de março – “Solitário, desesperado...”, de Nouveau-Rousseau
Pode parecer pouco crível que a vetusta Maison Rousseau, na Grand Rue,
40, em Genebra, tenha aceito ser palco do lançamento deste hard-cover ontem à noite, entre temperadíssimos
salgadinhos veganos. Apesar de o autor do livro ser obviamente um pseudônimo,
dois dos autores verdadeiros estavam lá – a se empanturrar com os referidos.
Solitaire, désespéré, je ferai
dans ma faiblesse ce que les forts ne font pas – “Solitário, desesperado,
farei na minha fraqueza o que os fortes não fazem”, para além de seu quilométrico
título, pode ser visto [com certa injustiça] como um pastiche. Trata-se de uma
frase de Jean-Jacques Rousseau, talvez pensada em alguma caminhada à beira de
lago ou em meio a seu ménage-à-trois com
a Madame de Warens e outro cara – com Rousseau nunca se sabe muito, embora ele
diga tudo.
Consiste em fantasias [não merece outro nome] de o que o Mestre diria,
diante de desafios em diferentes épocas. O verdadeiro morreu em 1778. Há um
texto teoricamente escrito durante o horror das guerras napoleônicas; outro na
fome irlandesa de 1845; nas trincheiras da Primeira Guerra; no golpe militar
argentino em 1976, e mais. O último [inevitavelmente] trata do Aquecimento
Global.
Restam os debates sobre se se trata de uma sociedade secreta de
adeptos, existentes em todas as épocas. Ou de uma tendência humana a procurar
guias, diante de problemas [quase] insolúveis. Pelo sim pelo não, o museu decidiu
dar uma oportunidade ao pastiche – e não se pode dizer que tenha agido errado.
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