034 – 10 de maio – “História dos Imaginários Amanhãs”, de Zarina Samiah


Não se trata de um livro mas de um projeto. Hadithi ya Kesho ya Kufikiri – o título da obra em Swalihi [a língua franca da região] faz parte de pequenos livros [poemas, romances ou até pensamentos soltos] que surgem sempre em má hora no pior local. O primeiro [segundo versões] surgiu em Rostock na Alemanha sufocada por tiros em 1945 – outras dizem ser mais antiga ainda.

Zarina Samiah não era daquelas apaixonadas por livros [que dizem depois que a literatura as emancipou]. De fato gostava mais de escrever que de ler – e coerentemente elaborava longas cartas para si mesma, as quais [quando tinha dinheiro] enviava para seu próprio endereço e esperava com ansiedade de apaixonada. Sempre com um pseudônimo – ela assinava Gunther Miller, um engenheiro sueco em problemas no casamento, ou Park- Ji-yon, uma jovem dançarina na Coréia do Sul ansiosa por se tornar profissional. Até que a guerra civil no seu país [o Sudão do Sul] interrompeu o serviço postal.

São essas cartas [e de outros correspondentes imaginários] que se reúnem nesse livro. O título se justifica porque todos, de certa forma, tratam de um futuro – futuro esse efetivo ou que existirá apenas em suas cabeças, pouco importa. Como habitante de país em conflito, é natural que Zarina amasse tanto seus correspondentes.

A grande mensagem deste livro [e de todo o projeto, e de talvez qualquer livro que se preze] é de esperança. Apesar de tudo ou por causa desse tudo.

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