032 – 07 de maio – “Waste No Paradise”, de Annie Trang Nguyen


Annie Trang Nuyen [assim mesmo, com esse nome afrancesado em meio a tantas sonoridades extremo-orientais] nasceu há 49 anos em uma aldeia perdida que [infelizmente para ela e os vizinhos] tornou-se célebre em noticiários de guerra, Vihn Dihn Village, bem na boca do grande rio Mekong. Nasceu tarde demais para se lembrar da visão das bombas porém a tempo de recordar seu cheiro e seu som – os quais 49 anos depois a Professora de Psicologia dos Narcóticos da Ho Chi Minh City International University descreve com detalhes no seu primeiro livro não-didático.

Não desperdice o Paraíso apesar de seu assunto se trata de livro otimista. Certo, fala do horror. Afinal, parte das memórias de uma menina no meio de uma guerra, que ela não causou, não sabia por que lá estava, e a qual sequer entendia. Além de odores e sons, lembra de rostos – os óbvios, de pai e mãe previsivelmente atarantados, avôs e avós, e também outros – cobertos com capacetes estadunidenses, e com medo, e ódio – e, na memória da menina e no raciocínio da psicóloga, essas duas emoções se encontram tão próximas a ponto de serem inextricáveis.

A professora Annie fecha com a frase Na vida estamos cercados de Mal e estamos cercados de Paraíso. Não desperdice o Paraíso – digna de pano de prato ou livro de autoajuda. Não deixa de conter alguma verdade, porém – apesar das bombas, tédio e intermináveis engarrafamentos que fazem esse estranho Paraíso.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

028 – 22 de abril – “A História dos Inexistentes Espiões”, de Ludwig Philby

027 – 21 de abril – “Eisoptrofobia”, de Vicente Bioy-Gonzales

004 – 22 de março – “Querido, você esqueceu o filme-a-cores!”, de David Braunschweig