007 – 25 de março – “Memórias secretas de um Conde”, de Serguei Yulevitch Witte


Um velho frente a um grupo de homens poderosos (e irredutíveis). O Velho fala de guerras, de ruínas. Lamenta pelas pessoas que nascerão depois dele, pois viverão sem esperança. Tudo o que terão será a culpa, a vingança e o terror. “E o mundo será cheio de fanáticos – e tolos triviais”. Vai embora. E tudo segue como antes.

Esta não é cena inicial ou final de Тайные воспоминания графа (Memórias Secretas de um Conde) lançado hoje em 17ª edição na Borders de Petersburgo. De fato, há [não infundadas] dúvidas de que Serguei Yulevitch, o Conde Witte, seja mesmo seu autor. Curiosamente, nos tempos da União Soviética o livro foi incluído no index de proibições por obscenidade, por algum censor que provavelmente só se deu ao trabalho de ler o título.

O tal Conde Witte foi importante [ministro, primeiro-ministro] e tinha a tarefa inglória de lidar com um imbecil com megalomania hereditária [o Czar Nicolau II] e seus conselheiros [que conseguiam ser ainda piores].

O melhor da obra no entanto ocorre nas suas partes finais, com o Conde já aposentado. No último capítulo aconselha o Czar a não iniciar a Primeira Guerra Mundial. E profere as fortes palavras ditas acima. O Conde morreria meses depois.

Tais palavras talvez possam se aplicar a um mundo depois do aquecimento global  - crianças a viver de culpa e terror em um mundo de fanáticos e tolos. O que confere certo tom de profecia a essas Memórias – e também calafrios na espinha dos mais sensíveis.

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