005 – 23 de março – “Meu sonho e meu pesadelo”, de Kurtz Willard


O lançamento de “My Dream and my Nightmare / Mi ala ati alaburuku mi” não pode ter qualificação outra que não a de grande sucesso – pelo menos, é essa a impressão deixada por notas de destaque em dois dos três periódicos online de Brazzaville. O volume [em edição bilíngue Inglês/Lingala] atraiu dúzias à FNAC - filial da Universidade Marien Ngouabi.

O livro não é destituído de méritos. Seu autor ou autora não existe. Não com esse nome – Kurtz e Willard são personagens do Apocalypse Now de Coppola, este por sua vez uma reciclagem do Heart of Darkness, de Joseph Conrad. Explica-se portanto a razão de porque o livro foi lançado no Congo – ali mesmo ocorreu a trama sinistra mostrada pelo escritor.

Meu Sonho e meu Pesadelo começa com a pouco estética cena de um caracol a deslizar pelo gume de uma navalha. Corta para um previsível capítulo de um rapaz de sorriso largo chegando a um mercado em Lubumbashi ou Kinshasa (a trama não é precisa), e evolui para um inesperada trama de amor, bombas de napalm e volta ao caracol.

Não faltam (nunca faltam) explicações vinculando tudo ao imperialismo estadunidense – o que tiraria algo do absurdo da absurda trama. Lanço uma hipótese alternativa. Meu Sonho e meu Pesadelo não tem sentido, é ilógica pura – e nisso constitui a mais pesada denúncia do Imperialismo – se o absurdo faz esse estrago em um enredo de romance, imagine-se o que faz nas vidas das pessoas. Esta pode ser a grande mensagem do livro, que passou despercebida nas duas notas nos jornais.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

028 – 22 de abril – “A História dos Inexistentes Espiões”, de Ludwig Philby

027 – 21 de abril – “Eisoptrofobia”, de Vicente Bioy-Gonzales

004 – 22 de março – “Querido, você esqueceu o filme-a-cores!”, de David Braunschweig